TRATAMENTO

Tratamento Clínico: Controle com medicação

A primeira coisa que se deve esclarecer é que não existe tratamento medicamentoso para endometriose. Tratar significa erradicar a doença e isso a medicação não consegue fazer. Ela funciona com um propósito somente: melhorar os sintomas da endometriose. Não há qualquer remédio que, prescrito para a paciente, a faça deixar de ter a doença. Cerca de 70% das pacientes medicadas apresentam alívio dos sintomas. No entanto, caso a medicação seja suspensa, todos sintomas retornam e permanecem prejudicando a qualidade de vida da portadora da doença.  

Quando considerar o tratamento medicamentoso


Os medicamentos podem ser, entre outros: progesteronas isoladas, pílulas anticoncepcionais combinadas, análogos do GNRH ou DIU de levonogestrel.


O tratamento por via medicamentosa deve ser considerado para mulheres que não desejam engravidar, já que todos os medicamentos são hormonais e têm ação anticoncepcional, pois inibem a ação do endométrio – onde o óvulo fecundado se instala. Nesse grupo se encontram:

  • Mulheres em idade fértil que não tiveram filhos e não possuem desejo reprodutivo
  • Pacientes adolescentes, como elucidado aqui
  • Mulheres que já tiveram filhos e que não desejam mais engravidar.

É importante salientar que qualquer um dos medicamentos pode ocasionar efeitos colaterais, como dores de cabeça, inchaço, acne, entre outros. A escolha deve ser feita pela paciente com base na adaptação e capacidade de adesão ao tratamento, ou mesmo a opção pela cirurgia, para abolir a medicação. Mesmo com o alívio dos sintomas, as pacientes devem realizar exames regulares para controlar a progressão da doença.

Tratamentos: Cirurgia de endometriose

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico é a única forma, até então, de se tratar a endometriose. Ele tem por objetivo aliviar a dor, restaurar a anatomia pélvica e melhorar a capacidade reprodutiva. O que se busca no procedimento é a eliminação de todas as lesões possíveis, para evitar a persistência da doença e diminuir as taxas de recorrência.

 

Tratamento cirúrgico

Pra quem está indicado?

Mulheres que possuem quadro de dor associado a desejo reprodutivo imediato;

Mulheres que não experimentaram alívio dos sintomas com tratamento medicamentoso, ou mesmo que apresentem um quadro de evolução da doença, mesmo em vigência do tratamento medicamentoso;

 

 

Mulheres com endometriose profunda comprometendo o apêndice ileocecal, com lesões profundas passíveis de promover obstrução em íleo e ureter e ainda as portadoras de endometriomas ovarianos de grande volume;

Mulheres com diagnóstico de endometriose confirmado por ultrassom transvaginal com preparo intestinal ou ressonância magnética e que evoluem com infertilidade sem resultado positivo após duas tentativas de fertilização podem se beneficiar de tratamento cirúrgico antes da terceira tentativa, mesmo que apresentem pouca dor ou seja assintomática.

 

Vídeo-laparoscopia

É uma técnica cirúrgica minimamente invasiva que permite identificar com detalhes lesões de endometriose que muitas vezes não são visíveis na cirurgia convencional. Não é possível realizar uma cirurgia de endometriose aberta (técnica convencional) e obter o mesmo grau de satisfação com o resultado quando comparado à laparoscopia, porque muitos focos da endometriose não são vistos a olho nu.

A cirurgia laparoscópica é uma modernização da cirurgia convencional onde se utilizam equipamentos especiais como fibra ótica, microcâmera full HD, telescópios e fontes de luz de xenônio que permitem visibilização amplificada da cavidade abdominal.

A técnica laparoscópica não é ensinada na imensa maioria das residências de ginecologia no Brasil e requer que o profissional se especialize após esse período. Dentre os procedimentos cirúrgicos em ginecologia que atualmente são realizados por laparoscopia, o tratamento cirúrgico da endometriose é considerado de grande complexidade pois o cirurgião deve dominar tanto a técnica cirúrgica quanto apresentar conhecimento absoluto da anatomia pélvica retroperitoneal devido às características infiltrativas da doença, a proximidade com estruturas anatômicas nobres como veias e nervos e as aderências entre os órgãos típicas da doença.

Como é a cirurgia?

O procedimento é realizado através de pequenas incisões localizadas em cada lado da região pélvica e na região central no baixo ventre por onde entram as pinças, as quais permitem a realização do tratamento e um telescópio acoplado a uma microcâmera. Essa câmera filmadora amplia 20 vezes o tamanho da imagem e a lâmpada de xenônio faz uma iluminação excelente do local, permitindo uma ótima condição cirúrgica.

 

 

A câmera consegue chegar bem perto da lesão, ampliá-la e mostrar ao cirurgião detalhes como veias, artérias, nervos, em geral, estruturas que não devem ser confundidas com o tecido doente.

O cirurgião deverá ser capaz de identificar e preservar os tecidos sadios ao remover os focos da doença e, de acordo com sua habilidade de remover a maior quantidade de tecido comprometido, representará em melhores condições clínicas pós-operatórias.

A capacitação do cirurgião está diretamente associada ao sucesso reprodutivo após a cirurgia. Infelizmente, existem profissionais que não possuem experiência suficiente para trabalhar em casos complexos de endometriose. Uma cirurgia ovariana mal sucedida pode resultar em um enorme prejuízo a capacidade de engravidar e até induzir uma falência ovariana precoce.

A Endometriose tem muitas faces!

Alguns casos são difíceis de ser identificados até por videolaparoscopia, desafiando até mesmo os cirurgiões mais experientes.

Um exemplo: quando a doença está localizada abaixo do peritônio. Às vezes, os exames diagnósticos apontam um pequeno foco no peritônio e, durante a cirurgia, descobre-se um nódulo grande por baixo do retroperitônio, como se fosse um iceberg.

A câmera consegue chegar bem perto da lesão, ampliá-la e mostrar ao cirurgião detalhes como veias, artérias, nervos, em geral, estruturas que não devem ser confundidas com o tecido doente.

O cirurgião deverá ser capaz de identificar e preservar os tecidos sadios ao remover os focos da doença e, de acordo com sua habilidade de remover a maior quantidade de tecido comprometido, representará em melhores condições clínicas pós-operatórias.

Se não houver uma investigação minuciosa durante o procedimento, corre-se o risco de realizar apenas uma coagulação (cauterização) na parte superficial da lesão e não remover o nódulo retroperitonial que, por infiltrar os nervos desta região, causam dores.

Em casos de endometriose peritoneal superficial, caso a paciente não apresente desejo reprodutivo imediatamente apos a cirurgia, é recomendável manter a paciente em amenorréia com intuito de evitar a menstruação retrograda e consequentemente a instalação de novos focos.

O tratamento cirúrgico da endometriose ovariana é outra situação extremamente delicada pois no momento de remover a pseudo-capsula do endometrioma pode danificar o tecido sadio ovariano levando a uma redução da reserva ovariana e consequentemente diminuindo a capacidade reprodutiva da mulher.