DIAGNÓSTICOS

Diagnóstico da Endometriose

A demora no diagnóstico:

A compreensão dos sintomas relacionados à endometriose é de fundamental importância para a prática diária do ginecologista, enquanto ferramenta imprescindível para o diagnóstico precoce. Sabe-se que, infelizmente, a média estimada de tempo desde a instalação dos sintomas até o diagnóstico da doença em pacientes com queixa de dor pélvica é de aproximadamente 7 anos. Esse atraso não ocorre só no Brasil: de acordo com estudo recente realizado com pacientes da Alemanha e Áustria observou-se que o diagnóstico levou média de 10 anos para ser realizado desde a instalação dos primeiros sintomas e a paciente precisou passar, em média, por quatro ginecologistas para a descoberta da doença.

A verdade é que a endometriose tem sido historicamente mal diagnosticada e, especialmente em casos de endometriose profunda, os sintomas clínicos referidos pelas pacientes e o exame físico, geram informações suficientes para um diagnóstico rápido. Então por que a doença demora tanto tempo para ser descoberta? Inicialmente, porque as mulheres negligenciam os próprios sintomas, adiam a busca por ajuda médica e também porque os próprios ginecologistas tendem a subestimar algumas queixas das pacientes, como cólica menstrual e dor às relações sexuais, acreditando tratar-se de alterações fisiológicas.

Exame físico

Além dos sintomas específicos, é possível observar no exame físico, em casos de endometriose profunda e/ou ovariana, a presença de alterações muito sugestivas da doença por meio do toque vaginal, capaz de identificar a endometriose em aproximadamente dois terços dos casos.

No exame de toque, é possível detectar as alterações que acometem o ligamento uterossacro (que vai da parte posterior do útero até o osso sacro). A endometriose costuma se manifestar frequentemente nesse ligamento, tornando-o espessado e retraído, deixando o útero fixo ou com pouca mobilidade.

Na paciente com endometriose, durante o exame de toque, o útero deve ser mobilizado e, como o ligamento é curto, isso fará com a que a paciente sinta dor. Essa manifestação pode ser um indício da doença. Também no exame de toque, é possível sentir nodulações atrás do colo do útero e nesses casos, quando se toca o nódulo, a paciente pode também sentir dor.

Essa detecção requer experiência do profissional, adquirida por meio de treinamentos e conhecimento acerca da doença. É fundamental reconhecer os sintomas para diagnosticar a doença.

Vale citar um dito popular que representa os casos em que a paciente tem endometriose e não é diagnosticada: “quem não sabe o que procura, quando acha não encontra”. É preciso conhecer a endometriose, de todas as formas: em fotografias, presencialmente, por meio de experiências em ambulatório, por estudos para identificar como ela se manifesta. Esse é o desafio do dia a dia: fazer com que mais médicos possam identificar a doença precocemente.

Exames complementares

Ultrassom transvaginal com preparo intestinal e ressonância magnética

Para a complementação diagnóstica através de imagem, o ultrassom transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética de pelve representam excelentes ferramentas, com elevada acurácia para detecções de lesões profundas. Para lesões intestinais, por exemplo, o ultrassom transvaginal com preparo intestinal pode alcançar 99% de acurácia e a ressonância magnética, 90%.

Muitas vezes, os focos de endometriose não são identificados por se tratarem de lesões superficiais ou pelo fato de os exames serem, ambos, operadores dependentes, ou seja, dependem da experiência do profissional que realizará o ultrassom ou que analisará as imagens para emissão do laudo da ressonância magnética.

Colonoscopia

A realização de colonoscopia, exame pelo qual avalia-se o interior do trajeto intestinal desde o ânus até o ceco (junção do intestino grosso com o intestino delgado), raramente é capaz de identificar focos de endometriose intestinal pois a lesão primeiramente acomete a serosa (camada mais externa) do intestino e daí infiltra a parede do órgão comprometendo as camadas musculares externa e interna e após segue em direção a submucosa e enfim, a mucosa (camada mais interna). Ë atualmente reservado aos casos onde ocorrem sangramentos por via retal para descartar outras doenças do intestino, como pólipos, divertículos, doenças inflamatórias ou mesmo o câncer intestinal, que possam estar acontecendo concomitantemente à endometriose intestinal.

 

Enema-opaco

Exame utilizado para avaliar o trânsito intestinal através de raio x e contraste indicado para casos onde há suspeita de sub-oclusão do intestino, induzida por um foco de endometriose profunda.

Laparoscopia ou videolaparoscopia

Diante da evolução do diagnóstico da endometriose profunda através de exames de imagem não invasivos como a ressonância magnética e o ultrassom transvaginal com preparo intestinal, a laparoscopia diagnóstica ficou restrita para casos onde a paciente mantém quadro de dor resistente a tratamento clínico hormonal e os exames citados não demonstram alterações, e para os casos de infertilidade sem causa aparente (quando não há alteração de exames que justifiquem a infertilidade conjugal) após duas ou três tentativas de gestação através de indução de ovulação sem sucesso .

Ao contrario dos outros exames, a laparoscopia consegue detectar a endometriose na forma peritoneal superficial. Como é também um método de tratamento, durante o procedimento, já são identificadas e tratadas as lesões.